sexta-feira, 25 de outubro de 2013

“LIBERDADE, LIBERDADE ABRE AS ASAS SOBRE NÓS...”

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Francisco Miguel de Moura*

            A frase acima é do Hino da Proclamação da República. Como acontece com todos os hinos, esse é também uma peça de louvor à República, refere-se ao seu tempo e à situação, portanto não se pode esperar uma grande poesia.  Entrementes, pelo que se sabe o Mal. Deodoro, no seu grito de “libertador”, não falou uma só vez a palavra República. Ele deu o golpe, acompanhado por seu grupelho, e só se referia à queda da Monarquia. O Marechal nunca foi um republicano, pelo que se sabe. A República traria a liberdade de pensamento, idéias e um Estado baseado nessas idéias novas – o Positivismo, de Auguste Comte. Assim, nasceu nossa República, cuja Constituição foi copiada (mal copiada dos Estados Unidos). Agora, sim, o pensamento positivista dominante em alguns países europeus instalava-se no Brasil através da influência que o Cel. Benjamin Constant exercia na intelectualidade: jornalistas, escritores, pensadores e políticos.  Não quisemos continuar Império, tendo a Princesa Isabel a assumir o trono e proclamar uma monarquia à inglesa, o rei manda, mas não governa: Governar ficaria para eles, os republicanos políticos, que teriam um Parlamento eleito e o Primeiro Ministro como na Inglaterra. O “Hino da Proclamação da República” foi, inicialmente, pensado como o novo Hino Nacional, pois queriam mudar tudo. Mania de nós, brasileiros, preguiçosos e fracos pensadores. Assim que caiu o regime monárquico, os republicanos estabeleceram novos símbolos com a função de representar a transformação política acontecida no final do século XIX: hino, bandeira, etc. Em janeiro de 1890, o Governo Provisório do Marechal Deodoro da Fonseca lançou um concurso visando à oficialização de um novo hino para o Brasil. O Teatro Lírico do Rio de Janeiro foi palco da disputa entre vários pretendentes a autores, acabando como vencedores José Joaquim de Campos da Costa de Medeiros e Albuquerque (1867 – 1934) (letra) e (música) Leopoldo Miguez (1850-1902). Atuando como professor, jornalista, escritor e político, Medeiros e Albuquerque teve uma formação intelectual privilegiada, estudou na Escola Acadêmica de Lisboa e teve, no Brasil, o folclorista Silvio Romero como seu preceptor. Politicamente foi um grande entusiasta do ideal republicano, entre tantos outros, e quando o novo regime se instalou, Medeiros e Albuquerque assumiu alguns cargos públicos e administrativos. Leopoldo Miguez saiu cedo do Brasil e dedicou-se aos estudos musicais na Europa. Em 1878, voltou ao Rio para abrir uma loja de pianos e música. Como era professor e defensor da República, retornou à Europa e ali concentrou informações sobre a organização de institutos e conservatórios musicais. Em 1889, foi, então, nomeado diretor e professor do Instituto Nacional de Música. Mesmo havendo ganhado a grande disputa, o hino acabou não sendo utilizado como o novo hino do país, continuando assim o nosso “OUVIRAM DO IPIRANGA...” sendo o símbolo cantado. Em 1890, o governo brasileiro decretou que a criação dos dois republicanos fosse chamada de “Hino da Proclamação da República”. Em 1989, a “Escola de Samba Imperatriz Leopoldinense” comemorou o Centenário da República utilizando uma parte do refrão do hino em seu samba enredo. O tempo passou, mas esse hino tão pouco utilizado depois, em solenidades oficiais, é aqui lembrado, mesmo que somente a letra, como significativo símbolo de nosso regime político. Aqui vai parte da letra, para os que têm interesse em seu conteúdo e contexto:

             “Seja um pálio de luz desdobrado / Sob a larga amplidão destes céus / Este canto rebel que o passado / Vem remir dos mais torpes labéus! / Seja um hino de glória que fale / De esperança, de um novo porvir! / Com visões de triunfos embale / Quem por ele lutando surgir! // REFRÃO: LIBERDADE! LIBERDADE! / ABRE AS ASAS SOBRE NÓS! / DAS LUTAS NA TEMPESTADE / DÁ QUE OUÇAMOS TUA VOZ!”. 

                Mais três oitavas seguem, após cada uma repetindo o refrão.
           
            Depois de tão distantes acontecimentos, poderíamos ainda repetir o refrão, mas com outro sentido: É que “A LIBERDADE QUE ABRE AS ASAS ATUAIS” não é para o homem comum, mas para vilões, presos com muitos crimes na “corcunda”, para filhos da rua, sem pai nem mãe, que se tornaram assassinos a mando daqueles que distribuem droga e armas, e também para os criminosos do trânsito, os “black blocs”, os malfazejos, os políticos corruptos e os que não são políticos, mas também são corruptos. Nossa liberdade hoje é viver trancafiados em casa, com medo de ladrões e assassinos, drogados e psicopatas que nos atacam a qualquer hora do dia e da noite, sem dó nem piedade.
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*Francisco Miguel de Moura - Escritor, membro da Academia Piauiense de Letras e da IWA(International Writers and Artists Association - USA)

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