Há alguns meses recebi um
volumoso livro, ainda apenas digitado, mas já no ponto de ser
editado. Trata-se de uma obra do maior interesse para o Piauí. É a
tese da Professora. Cristiane Feitosa
Pinheiro, Professora Titular no Campus da Universidade Federal de
Picos. Título de sua tese de doutorado, prestada oralmente aqui em Teresina, diante do corpo de
professores da Reitoria da Universidade Federal do Piauí, doutores
daqui e de outros Estados. Nome da tese que doutorou a Professora.
Cristiano Feitosa Pinheiro: “ENTRE O GIZ E A VIOLA: PRÁTICAS
EDUCATIVAS DO MESTRE-ESCOLA MIGUEL GUARANI NO VALE DO RIO
GUARIBAS(1938-1971)”.
Esta, sim, é uma obra de
peso e medida. A Universidade já deveria estar se preparando, se é
que não começou, a publicá-la para, inclusive, melhorar suas
publicações de teses, às vezes sem muito conteúdo,outras
enviesadas para o lado de teorias e dogmatismos estranhos e
desnecessários ao nosso meio.
Mas o que acontece com a tese
de doutorado da Professora. Cristiane Pinheiro é bem diferente: Trata do
problema educacional no Piauí exatamente com foi no interior do
Estado e como, certamente, ainda continua problemática, quando
miseravelmente pouco atacado pelas autoridades e quando assim, de
forma distorcida, sem observar o passado.
O passado nos ensina.
Um simples mestre-escola do
interior de Picos, mais precisamente do Vale do Guaribas e de seu
afluente, o Riachão, trouxe à baila seu grande trabalho em favor
das populações daquele interior esquecido, depois desassistido.
Miguel Borges de Moura (Guarani) na verdade era bastante conhecido em
todo aquele interiorizarão, pois era como que um faz de tudo, desde
que para servir os seus conterrâneos e os seus filhos, livrando-os
do analfabetismo e indo muito além, pois lecionava o que seria
equivalente ao Exame de Admissão ao Ginásio (que ainda não existia
no grande burgo – a cidade de Picos). Matéria que ensinava:
Português, Aritmética, Geografia, História Geral e do Brasil, além
de rudimentos de Ciências.
Quando, no final do século
XIX, iniciei a pesquisa sobre Mestre Miguel Guarani, meu pai, ele já
não era vivo (faleceu em 07-08-1971). Mas trabalhou incansavelmente
até o falecimento, ensinando às crianças, adolescentes e adultos,
aquelas matérias e mais: as regras do bem viver, como se chamava a
moral e a conduta das pessoas na sociedade, pois ele lecionava também
religião. Minha pesquisa durou desde o tempo do seu falecimento até
o finalzinho daquele século. Somente em 2005 foi possível publicar
o livro de minhas pesquisas e memórias sobre ele, com o título nada
pomposo – apenas explicativo: “Miguel Guarani – Mestre e
Violeiro”.
Não falei ainda da aquisição
desse saber de Mestre Miguel sobre a poesia popular e as cantorias
tão comuns no Nordeste. No começo fazia cantorias somente
acompanhado, ou melhor, combatendo outro cantador, em versos
excelentes perfeitamente improvisados. Foi nessa época que
impressionado com o que meu pai fazia, da forma como fazia e gradeza
dos seus gestos como Mestre. Ouvindo sua primeira cantoria (depois
ouvi muitas), tornei-me realmente seu fã mais do que já era e
comecei a entender quão grande era sua inteligência e generosidade,
pois não trabalhava por dinheiro,o que ganhava era suficiente (para
ser otimista), suficiente para sustentar a família em suas
necessidades essenciais. E o que ganhava um Mestre Escola? Melhor
nem falar e sentir como o professor nunca foi aquinhoado como devia
pelo seu duro trabalho. Professor é um abnegado, que se sacrifica
sem saber porquê. Ou melhor, sabe? É bem bem da comunidade sem
esperar recompensa.
Poderia falar muito mais do
que está no livro que escrevi e mencionei acima, mas acho
desnecessário, visto que a Professora Cristiane Pinheiro fez uma
pesquisa das mais profundas sobre o assunto, que colocou na tese,
entrevistando pessoas que hoje estudam, trabalham ou são professores
da Universidade.
Colocando aqui um trecho de
sua dissertação, acho que não cometo nenhum pecado, mesmo sem a
permissão dela, a autora, grande autora, grande criadora, grande
mestra:
“Mestre
Miguel de Moura adquiriu na experiência da sala de aula – casas,
fazendas, povoados- as estratégias necessárias para exercer o
ofício de mestre, fortalecer as raízes da profissão docente em
Picos e adquirir respeito na sociedade em que estava inserido.
Diante de todo o cenário
apresentado, resta perguntar: Como se deu o processo de formação e
atuação do meste-escola Miguel Borges de Moura, nas comunidades
rurais picoenses, através das veias líquidas do Guaribas?”
A
resposta que faz, como estratégia, está toda, e com minudências,
no livro tese da Professora Cristiane Feitosa Pinheiro, de 281 páginas.
Quando iremos lê-lo em todo o seu teor, em livro publicado pela
Universidade Federal do Piauí? Ela, a Universidade, tem o dever de
tornar esta tese pública, não apenas pela internet, mas também
como livro de papel, para servir de modelo à demais que então se
fazem. Sim servir de modelo, sem nenhum desdouro.
Quanto
a mim, cabe agradecer penhoradamente o presente que ela me fez e à
Educação Piauiense/Picoense, louvando-se, em grande parte, nas obras “Miguel Guarani, Mestre e Violeiro” e “O Menino quase
Perdido”, ambos de minha autoria. Mais no primeiro que no segundo,
que é apenas um complemento do que eu havia começado a pesquisar e
contar.
É
claro que a Professora Cristiane Pinheiro presta um inestimável serviço
à História da Educação do Piauí, quiçá do Brasil, pois ambas
se confundem no que denominada História. Só o futuro reconhecerá.
Não importa. Importante é
fazer o que se tem de fazer e fazê-lo bem-feito, para o conhecimento das futuras
gerações de estudantes e professores. É isto que acabamos de
pincelar sobre o trabalho da Professora Cristiane Pinheiro, da
Universidade Federal do Piauí, servindo no Campus de Picos.
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*Escritor, membro da Academia Piauiense de Letras, membro da Academia Piauiense de Letras (APL) e da Academia de Letras da Região de Picos (ALERP)
*Escritor, membro da Academia Piauiense de Letras, membro da Academia Piauiense de Letras (APL) e da Academia de Letras da Região de Picos (ALERP)
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